terça-feira, 10 de março de 2009

Custódio, Carlos
DOUTORADO EM TERRORISMO CULTURAL E AFINS
DUO/ELO
1º Acto

Tu!
Tu aí!
Caminhante!
Porque vagueias?
Porque vagueias caminhante?
Terras sem dono, sem sal, sem ar que rejuvenesce.
Nem uma só mancha Verde.
Porque saltas?
Porque corres?
Porque ris?
Aqui não chove caminhante!
E o frio que a noite faz.
No meio do escuro ouvem-se gritos e às vezes até eu tenho medo!
Vês? Vês aquele monte?
Achas mesmo que o conseguirás subir?
E as tuas pernas já tão fracas, gastas, velhas, não te irão falhar?
Velho! Fraco! Louco!
Porque choras? Dói? Ris?!
Porque ris?
Porque ris, velho?
Porque ris?
PORQUE RIS?

Pestana, Bruno
MESTRE EM TERRORISMO ARTÍSTICO SEM COMPANHIA
DUO/ELO

Rio.
Porque não sou mar.
Se fosse, chorava sem cessar.
E nesse rio, rio-me.
Rio, rio-me, sem fim à vista.
Não sou do Restelo,
Porque já medi o meu sal
E de lágrimas peso mais que a própria Lua.
Se eu fosse a Lua já teria caído.
E com a minha sorte,
Teria sido em cima da minha própria cabeça.
Seria eureka essa lua cadente tornada em maçã de Adão
Caída em pecado.
Morreria feliz, com ela em cima.
Sem chorar, como te digo.
Sem chorar.
Basta de lágrimas. O mundo não o merece.
E eu não me tenho em tão boa conta.
Por isso rio.
Rio. Rio-me. Rio-te. Rio-vos.
A todos.
De todos.
Rio dos assassinatos e das corrupções,
Dos julgamentos brincalhões e dos juízes mandriões.
Dos políticos fanfarrões.
E das quezílias sem razões.
Sim.
Rio, por desespero, rapaz.
Porque já é tarde demais.
Porque já perdi o medo.
Porque não tarda a ficar escuro.
E já se me acabaram os fósforos.
Mas, respondendo às tuas perguntas:
Vagueio porque sim.
Salto porque faz parte.
Corro porque sempre vi fazerem o mesmo.
E sim, vejo, vejo aquele monte.
E sei que o riso será a única parte de mim que alcançará o topo.
Uma gargalhada básica, sonoríssima e triunfal.
Enquanto tudo o resto derrete.
Enquanto tudo derrete.
Enquanto tudo parece derreter.
Estou farto das tuas perguntas!
Porque perguntas? Posso saber? Responde!!
Faço-te saber, para tua, precisa, informação,
Que só te respondo…
Porque há muito tempo que não valia a pena… responder.
Porque verdadeiramente há muito tempo que ninguém, verdadeiramente,
Me perguntava alguma coisa.
E porque, para te responder com verdade,
- que é coisa que já não pratico há muito tempo -,
Estou igualmente farto das minhas mentirosas respostas.
Vá, agora é a tua vez.
Espero brevemente que a tua ardente juventude me interrompa.
Fica sabendo que se o não fizeres, sou bem capaz de vomitar todas as verdades que tenho dentro de mim.
Cuidado, que o banquete foi grande e demorado…
Que esperas afinal?
Subir àquele monte, choroso?
E choroso, voltar a descer e voltar a subir, rindo, talvez, chorando e rindo.
Como se fosse fácil? Pensas que é?
Tu pensas?
Pensaste? Antes de perguntar?
Vãs palavras…
Porque não voas daqui?