quinta-feira, 6 de agosto de 2009

C.a.r.l.o.s C.u.s.t.ó.d.i.o
VOZ QUE SUSSURRA POR DETRÁS DA CORTINA
DUO/ELO

-Let the games begin!


Diz a voz triunfal vinda do pequeno televisor.
Bigode tratado, patilhas farfalhudas, o enérgico apresentador mistura habilmente as duas línguas enquanto expõe as regras do jogo.

Os rapazes observam encantados o aparelho claramente contrabandeado, obviamente ilegal neste pedaço do mundo perdido no meio de lado nenhum.

O som do gerador sobrepõe-se por vezes ao do televisor.

A Mãe prepara a frugal refeição com os escassos alimentos que todos conseguiram colher.

Sentado no seu pequeno banco o Pai observa o inesperado hóspede de feições enrugadas, sorriso trocista, olhar enlutado.
Quem seria louco o suficiente para atravessar o grande deserto. Como teria ele conseguido passar as Montanhas Gémeas, a Cordilheira dos Perdidos, o Vale daqueles que já foram outrora considerados espíritos.
Se não o tivesse encontrado, decerto teria perecido ao frio, no sopé da Grande Sombra.
Pensa para os seus botões o sagaz caçador.

Num canto já acordado o velho visitante permanece imóvel, de olhos bem abertos num estado de aparente catatonia.

- Confuso?
Pergunta o solicito apresentador antes de partir para a fase seguinte.

Os rapazes deliram... olhos fixos no ecrã absortos de tudo e de todos.


Velho! Ainda estás por cá?
Pergunta mais uma vez o pequeno ser angelical de olhar ameaçador, num sussurro cortante.

No meio de um enorme lago vermelho o velho permanece imóvel.

Viajante tolo!
Viajante velho!
Não terás a ultima palavra, cobarde!
Pensa bem na minha proposta!
Refere a criatura agora transformada em pássaro. Ave de agoiro.

O velho permanece imóvel no meio da rocha circular rodeada de chamas.

Eu voltarei!
Refere o corvo já a voar.

No meio de um imenso jardim o Velho sorri...

- Are you ready?
Pergunta o apresentador num tom desafiador.

O baque do gerador a ir abaixo, provoca o desespero nos jovens rapazes.

Não se preocupem. Vou tratar disto.
Diz o Pai acendendo uma vela.

Olá!
.........

Obrigado por me acolheres.
Sussurra o hóspede inesperado.

Chama os teus, tenho algo para partilhar.
Diz o velho visitante fazendo-se entender perfeitamente.

A família reúne-se diante de tão estranha figura abandonando os seus afazeres de qualquer modo interrompidos.

Venho de longe...de Portugal... um lugar já muito distante, que não vem ao caso e tenho... uma história para vos contar...

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